O QUE
EU GANHO COM O CRM?
(originalmente publicado no Site do Clube dos
Executivos de Marketing , 2000)
Antes
de entender o que ganhamos com o CRM, é importante tentarmos
captar a extensão
de seu conceito e que paradigma esta sigla pretende mudar. CRM
significa Customer Relationship Management
ou, em
português, Gerência do Relacionamento com o
Cliente. Trata-se de manter um
relacionamento com o cliente de forma a agregar valor para ele e lucro
para
minha empresa.
“E como fazer
isto?” Em primeiro lugar eu o
identifico de forma única (começando pelos mais
lucrativos). Em seguida, passo a aprender com ele, no que chamamos de
“relação
de aprendizado”, tudo o que possa ter alguma
relevância para o meu negócio —
dados cadastrais, preferências, seu conceito de valor etc.
— através de todo e
qualquer contato entre ele e minha empresa, seja no ponto de venda,
serviço de
atendimento ao cliente (SAC), call center, Internet, força
de vendas ou em
qualquer outro.
Assim,
se o cliente foi ontem a um ponto de venda e se interessou por
determinado
produto, a empresa tem que disponibilizar esta
informação a todos que possam
estar em contato com ele. Por exemplo, se ele ligasse hoje para o call
center,
o operador deveria atender a ligação saudando-o
pelo nome (com a ajuda de algum
dispositivo de identificação,
automática ou não) e perguntando o que ele achou
do produto pelo qual se interessou ontem. É claro que para
isto funcionar, é
preciso encontrar mecanismos para:
a) identificá-lo; e b) reconhecê-lo de
fato — por exemplo, registrando, em banco de dados
acessível a todos que tenham
contato com clientes, seu histórico de
comunicações (dele comigo e
vice-versa) e de
compras (afinal, não
queremos correr o risco dele já ter comprado o produto e
ouvi-lo preocupado
perguntar: “por que, algum problema com meu
produto?”).
De modo similar, se o
cliente registrou ontem uma reclamação no SAC,
que ainda não foi resolvida, ele deve ser
excluído da lista dos clientes que serão
abordados por uma campanha de mala direta ou de telemarketing ativo
para a venda de algum
produto.
“Parece interessante,
mas ainda não entendi o que eu ganho com tudo
isso...”. Para
começar, eu evito
desperdiçar recursos com clientes como o acima.
Além disso, uma vez que eu sei
quem é o cliente e estabeleço um
diálogo (a tal “relação de
aprendizado”) com
ele, eu posso maximizar os resultados dos esforços de
marketing, passando a
oferecer comunicações, produtos e
serviços personalizados e com alto grau de
relevância para o cliente, dentro do conceito do Marketing 1 to 1.
“Entendi. Trata-se de
uma nova roupa para o velho database marketing...”. Essa
idéia está, em parte,
certa. A grande diferença, e esta é
também a principal mudança de paradigma,
é
que mesmo no database marketing, com toda a sua
sofisticação de tecnologia da
informação e aplicação de
modelos estatísticos sobre dados (cadastrais,
transacionais etc.) do cliente, cada vez mais importantes, o foco ainda
estava
na empresa e em seus produtos. E agora o cliente é o rei.
“Também
já ouvi isto antes. Para ser franco, acho que meu
avô já tinha ouvido isto quando
criança...”. Verdade. Essa
é uma frase antiga. Mas na maioria das vezes, era
apenas um slogan e não
exatamente
algo que se praticasse. Hoje, o cliente está exigindo
este tratamento de
majestade. Afinal, ele nunca teve tantas opções
de marcas e produtos sob
diversos aspectos similares, com preços muitas vezes
também similares.
Hoje ele demanda que eu
me lembre de tudo o que ele me disse e de tudo que ele comprou comigo e
que eu use essa informação em seu
benefício. Que nós lhe ofereçamos
produtos e serviços que ele quer/gosta, no momento de sua
necessidade, por um preço que ele ache justo, abordando-o da
forma que ele autorizou — e-mail, telemarketing, mala direta
etc.
(marketing de permissão).
Se eu fizer isso, deixo
de gastar verba de marketing com um cliente que não quer ou
não pode comprar e é provável que ele
passe a comprar cada vez mais de mim (share of customer) e que tenhamos
uma longa e lucrativa relação para ambos. Afinal,
é consenso no mercado que conquistar um novo cliente
é, em média, cinco vezes mais caro do que manter
um antigo, e, desde 1996, a revista de negócios da
Universidade de Harvard, a Harvard Business Review, já
pregava que “o crescimento da fidelidade do cliente
é o mais importante fator isolado para a boa performance
financeira a longo prazo”.
Jeffrey Hanson Costa